domingo, 1 de março de 2009

VIAGEM DE MOTO COLONIA DEL SACRAMENTO/ URUGUAI – CARNAVAL 2009

Como toda viagem, a nossa começou com o planejamento. E a escolha do destino, foi um pouco inusitada. Pensávamos inicialmente, passar o carnaval em BH/MG, na casa de parentes e amigos. Eu iria de moto e a LU, por sua exigüidade de tempo, iria de avião. Lá passearíamos pelas montanhas mineiras entre outros atrativos.
Ocorre que como seria um feriado de intenso movimento, ficamos com receio de haver atraso no voo de volta. Seria muito arriscado ficar na mão do sistema aéreo brasileiro, tendo que trabalhar às 11h da manhã de quarta.

Então pensamos em outra opção, que não nos afastaria do desejo de fugir das agitações do carnaval.

- “Que tal Colonia del Sacramento?”, sugeriu LU.

Já tínhamos a intenção de ir até lá de moto. A distância e os dias disponíveis encaixavam-se perfeitamente. O roteiro elaborado, não levou mais que 30 minutos para ser aprovado. A lista de bagagens (devido a experiência e a consulta à previsão do tempo) também foi fácil. E o cálculo das despesas, foi feito “em cima da perna”, também. Só para comentar: o que gastamos em 6 dias de viagem ao Uruguai de moto, foi aproximadamente 1/3 a menos do que gastaríamos para Belo Horizonte, mesmo ficando em casa de amigos, sem despesa com hotéis.

PREPARATIVOS

Já que se tratava de viagem internacional, tínhamos alguns itens importantes para tratar:


- Carta verde: seguro para terceiros, OBRIGATÓRIO, para circular com veículo no MERCOSUL (inclusive moto);


- Reservas de hotel: por tratar-se de feriado de Carnaval (lembramos que no Uruguai também é feriado), nos precavemos fazendo as reservas com bastante antecedência, que foram gentilmente feitas pela Ptrulha (Ptrlha = P + Patrulha = sogra = irmã da LU), que trabalha na Rede Versare de Hoteis.
Pode parecer obvio, mas sabíamos que em locais turísticos os hotéis com boa relação custo x benefício lotam rapidamente, ficando somente aqueles com diárias altíssimas ou aqueles “pra lá de suspeitos” (do tipo que o dono diz: tenho um lugar no celeiro). Um detalhe percebido foi que no Hotel Balmoral, em Montevidéu, o valor acertado por email era inferior ao divulgado no site do hotel.


- Revisão da moto: para quem está sempre em cima de sua moto não há problema algum quanto a itens de revisão, mas regulagem do carburador talvez ajude a moto a não estranhar tanto a gasolina Uruguaia, que é pura e muito melhor que a nossa.

- Romming Internacional: para algumas operadoras de celular é necessário solicitar o romming internacional, ou seja, liberar a linha para fazer e receber ligações fora do país.

- Cartão de crédito: mesmo o cartão de crédito sendo internacional, sugerimos entrar em contato com a operadora e avisar da viagem. A LU ficou sem cartão no meio do Uruguai, pois a operadora não entrou em contato e bloqueou o cartão. Já a minha operadora ligou diversas vezes para confirmar se estava sendo usado no Uruguai.

Bueno, vamos para a estrada!!

RELATO DA VIAGEM

1º dia – 6ª-feira: Combinamos a saída às 16:30hs. Saímos no horário em direção à Pelotas, chegando lá às 19:30hs (260 km). Estrada tranqüila. Passamos por Turuçu, que estava perfeita (Turuçu sofreu com as chuvas no início do mês). Calor intenso e próximo a Cristal uma chuvinha para refrescar (sem roupa de chuva). Chegando em Pelotas, precisamos pegar um desvio já que a ponte de acesso à Jaguarão estava em obras. Passamos por dentro da cidade, em ruas sem pavimentação. Abastecemos a moto e pensamos em ir direto à Jaguarão, já que faltariam somente 130km e ainda era cedo. Mas como o hotel estava lotado, ficamos em Pelotas mesmo. Tínhamos reserva no Hotel Curi, com garagem e excelente atendimento. Jantamos em uma cantina em frente ao hotel e deitamos cedo, já que pretendíamos sair por volta das 06hs do dia seguinte. Ainda antes de deitar, reorganizamos os alforjes. Uma curiosidade: ao passarmos pelo único pedágio pago por moto no trecho – em Eldorado do Sul – LU perdeu uma moeda do troco. Grata surpresa quando levantei da moto no posto em Cristal, e a moeda estava no banco, embaixo da minha bunda. Perder R$ 0,50 não é nada, mas achar R$ 0,50 numa moto, em deslocamento, foi bem legal.

2º dia – sábado: Acordamos às 05:00hs, e depois de um tempinho a mais na cama devido a preguiça, levantamos e arrumamos as coisas para a saída. O hotel mais uma vez provou sua excelência no atendimento, nos permitindo tomar o café da manhã muito antes do horário. Saímos de Pelotas às 06:20hs em direção à Jaguarão. Temperatura agradável e dia limpo. Chegando em Jaguarão (130 km), abastecemos a moto, passamos a bela ponte e, entrando em Rio Branco, fomos direto à Aduana. Fizemos a imigração e aproveitamos a simpatia e cordialidade dos agentes alfandegários e perguntamos sobre o estado da Ruta 7, que era nosso plano. Nos sugeriram a Ruta 8, pois a 7 não estava tão boa. No posto havia um uruguaio que parecia “meio louco” e falava em montes de pedras e areias nas Rutas, arrastando os pés no chão, falando da brita. Nesse momento não demos bola, mas rimos muito quando, ao longo da estrada passamos por trechos em manutenção e montes de terra ao lado da pista, exatamente como ele tinha nos dito. De Jaguarão, abastecemos em Treinta y Três (+- 140km) onde mais uma vez percebemos o quanto os Uruguaios gostam de moto: uma família, dentro do carro, nos pediu para ligar e acelerar a moto, somente para ouvir o ruído do motor. Após passar em frente a Cervejaria Patrícia (quase ficamos lá), um “Caminero” (PRF) nos abordou, pedindo os documentos da moto + motorista.

Foi muito engraçado, pois ele ficou o tempo todo elogiando a moto, se mostrando apaixonado, além de sugerir postos e tipos de combustível. Esse fato confirmou o que já sabíamos: a paixão do Uruguaio por motos e sua cordialidade. Fomos até o “pueblo” de Minas, onde abastecemos e almoçamos nosso primeiro assado de tiras dessa viagem. Na saída, um senhor uruguaio disse que estava esperando somente a nossa saída, pelo prazer de ouvir o ronco do motor. Ele nos disse que usa moto tipo Trail para o trabalho no campo. Chegamos à Montevidéu por volta das 15:30hs e depois de achar que tínhamos errado a saída para a Ruta 1, saímos em direção à Colônia. Na saída abastecemos mais uma vez, e apesar da moto falhando por causa da gasolina, chegamos à Colônia por volta das 18hs. A Ruta 1 é quase toda duplicada e está em excelente manutenção. Percorremos nesse dia 840 km. Após abastecer, fomos até a Pousada Del Bosque (próxima a Rambla) e jantamos no centro, comendo nossa primeira Parrillada. Fomos até o centro de moto, mas sem capacete, já que lá não há fiscalização. Ótima sensação!!! Voltamos cedo para a Pousada pois começou a chover.
3º dia – domingo: acordamos às 9hs com a chuva batendo na janela. Sem pressa alguma descemos para o café da manhã e acertamos uma carona até o Shopping de Colonia com um simpático grupo da cidade de Charqueadas/RS, também hóspedes da Pousada.

Próximo ao ½ dia a chuva passou e fomos a pé até o Centro Histórico. Passeamos por lá e fomos almoçar no meio da tarde.


Quando chegamos no restaurante escolhido sentamos ao lado de um casal de paulistas, que estavam vindo do Chile, de moto. É claro que conversamos com eles e em poucos minutos já parecíamos amigos de longa data.

Após mais algumas voltas na cidade, retornamos ao hotel em ônibus de linha (o dono da pousada nos disse que o táxi não é muito barato em Colônia). O motorista nos deixou próximos a Pousada e tivemos que caminhar algumas quadras na chuva. Nessa noite aproveitamos a chuvinha para dormir cedo e recuperar as energias, pois no dia seguinte iríamos pegar a estrada novamente.

4º dia – segunda-feira: acordamos por volta das 08hs, tomamos café (mais uma vez conversando com outros hóspedes – dessa vez de Florianópolis) e nos despedimos dos donos da Pousada. Um casal muito simpático, que percebemos, pelo forte abraço de despedida, gostou muito de nós.



Saímos em direção à Montevidéu. Passamos na granja do maior colecionar de lápis do mundo (está no Guiness) e outras coisas como canecas, latas, chaveiros, etc. Vimos, inclusive, uma lata de cerveja do Grêmio. POR FAVOR COLORADOS: LEVEM UMA DO INTER SE FOREM ANTES DE NÓS. Além das coleções, a Granja é conhecida pela produção de chimias e doce de leite. Chimias / Geléias de cebola, pimentão, berinjela, entre outras. A viagem foi um passeio. Chegamos à Montevidéu próximo ao ½ dia, e depois do check-in no Hotel Balmoral (com garagem), trocamos de roupa e fomos à pé até o Mercado del Puerto (ponto turístico tradicional da cidade – encontramos pessoas do mundo todo). Almoçamos sentados ao balcão de um dos restaurantes de lá. Depois de um ótimo entrecot e chorizo, ficamos mais um pouco sentados, bebendo Patrícias e conversando com os garçons – sempre muito simpáticos. Eles falaram várias vezes que adoram os brasileiros e o quando “odeiam” os argentinos. Aqui vale uma observação: quase achamos que estávamos no Brasil, devido ao grande número de brasileiros em Montevidéu. Voltamos à pé para o hotel, mas parando em diversas lojas e livrarias (du cara...ops, maravilhosas). Tomamos um café e comemos um “postre” (sobremesa) muito bom em um restaurante da 18 de Julho. A noite, jantamos no La Passiva (sim, o mesmo que tem no Shopping Total e em Punta del Este) na Plaza Artigas. Dormimos cedo.



5º dia – terça-feira: Saímos de Montevidéu por volta das 8hs. A moto continuava engasgando (falhando em baixa velocidade). Ao passarmos em alta velocidade por um quebra-molas, perdemos o alforje traseiro, sem perceber. Depois de alguns kilometros, parados no semáforo, um outro motorista nos avisou que um caminhoneiro havia pego nosso alforje e estava vindo em nossa direção. Foi inacreditável a sensação de desespero e alívio, pois em poucos minutos já estávamos com o alforje na moto, dessa vez, MUITO bem amarrado. Isso demonstrou, mais uma vez, a acolhida, hospitalidade e honestidade do povo uruguaio. Não perderíamos somente o alforje, mas também a Carta Verde, documentos de imigração, assim como o Kong (nosso mascote). Fizemos o trajeto de volta na mesma Ruta. Chegamos à Rio Branco por volta das 14hs, e depois de um ótimo almoço (picanha e assado de tiras), combinamos 01 (uma) hora para a LU fazer as compras no free-shop, o que, por incrível que pareça, ela conseguiu. Bornau reserva cheio de perfumes, alfajores e toblerones, pendurado ao corpo da “turista”, fomos em direção à Pelotas, ainda com sol alto. No primeiro pedágio – entre Jaguarão e Pelotas – passamos por uma situação muito chata: não havia sinalização para passagem para moto. Assim, como na outra praça da ECOSUL, paramos na cabine para que o atendente abrisse a cancela. Nesse caso, a funcionária, doravante designada “despreparada” gritou que não podíamos passar por ali e sim pela passagem ao lado. Como falamos que não tínhamos como dar ré na moto que pesa, com tripulação e bagagem, mais de 500 kilos (haviam vários carros atrás de nós), a “despreparada” mandou que passássemos por cima do “gelo baiano” para sair dali. Batemos boca e acabamos dando ré e saindo pela passagem fechada com cones. Já entramos em contato com a concessionária do pedágio (ECOSUL) fazendo a reclamação, não só da falta de sinalização como do péssimo preparo da atendente. Chegamos em Pelotas por volta das 18hs e após o check-in no nosso conhecido Hotel Curi, saímos para um lanche. Após o banho, capotamos na cama.

6º dia – quarta-feira: pulamos da cama às 05:00hs e saímos do hotel às 06:00hs, depois de mais uma vez tomarmos café da manhã fora do horário. Nesse dia pegamos chuva e frio ao longo da estrada, até quase em Porto Alegre, onde chegamos às 09hs, pois LU tinha que trabalhar as 11h.
Tristes por ter acabado, mas felizes pelo ótimo passeio.


INFORMATIVOS


- ROTEIRO:

20/02/2009 – sexta-feira – POA / PELOTAS (259 km – aprox. 3 horas 20 minutos)
21/02/2009 – sábado – PELOTAS (660 km) / COLONIA DEL SACRAMENTO
22/02/2009 – domingo – COLONIA DEL SACRAMENTO
23/02/2009 – segunda-feira – COLONIA DEL SACRAMENTO / MONTEVIDEO (180 km)
24/02/2009 – terça-feira – MONTEVIDEO / PELOTAS (480 km )
25/02/2009 – quarta-feira –PELOTAS / POA (259 km)


- carta-verde é obrigatória, mas nunca foi pedida;

- levar um “T” (benjamim), pois os plugs dos carregadores de máquinas fotográficas, celulares ou GPSs nossos, não são compatíveis com as tomadas de lá;

- organização da bagagem: o que no início parecia muita bagagem para pouco espaço, com tantos monta-desmonta, conseguimos que sobrasse espaço mesmo com as compras. Otimização e logística ao longo da missão...hehehe;

- velocidade econômica da moto: ao rodar na cidade, já em Colonia, a moto chegou a gastar 5 litros para rodar 22 km. Impressionante o gasto em baixa velocidade nesta ocasião, devido a constante falha do motor, velas molhadas, etc.
Descobrimos então que a melhor velocidade era de 120 km/h na estrada. A partir de 80/90 km/h o motor ficou redondo e a economia foi surpreendente para a LC totalmente carregada. É claro que rodamos a 120 apenas no Uruguai. Aqui o limite na BR116 é de 100 km/h.

- ter a mão “‘trocentos” (vários) extensores é uma boa. Levei vários, e usei quase todos.

- RUTAS 9, 8 e 1, estão em excelente estado, com poucos trechos em manutenção Pode-se rodar tranquilamente na velocidade máxima permitida.

- ATENÇÃO MOTOCICLÍSTAS:::::: muito cuidado com o gado. Os bichos ficam soltos no campo e não há cerca ao longo da RUTA. Quando o gado aproxima-se da margem da pista, a peonada fica postada perto para controlar seu deslocamento. As vezes são apenas dois gaúchos para uma tropilha de 30 animais. Não é tão seguro assim.

- minha moto (LC 1500 - SUZUKI), como já disse acima, não se deu bem com a gasolina Uruguaia. De todas as que usamos, a melhor foi a COMUM da PETROBRÁS. Falhava menos em baixa. Mas isso pode variar de moto para moto. Injetadas se dão melhor.

- quanto a bagagem pessoal e para a moto, acertamos bem nas escolhas. Não faltou nada e não foi nada além do que o necessário. A vantagem da moto é que precisamos selecionar muito bem o que levar. Esquecemos somente de levar uma calculadora de bolso (aquelas de R$ 5,00), para calcular o desempenho da moto e facilitar a conversão de moedas.

- moedas: até Treinta y Três o Real era aceito. Em Colônia também. O que complica nessas viagens é que temos que ter três moedas: real, dólar e peso uruguaio. Vimos casas de câmbio em Montevidéu com taxas para troca de real por peso com valores melhores que os praticados em Porto Alegre. Assim, sugerimos levar real e fazer o cambio lá.

- diferente do Brasil, a “caminera” (PRF) está na estrada. Vimos vários argentinos sendo atacados por andar em alta velocidade e fazer ultrapassagens em locais proibidos. Vale a sugestão: obedeçam as leis de trânsito.


Bom, acreditamos que relatamos tudo (ou quase tudo!). Estamos a disposição para perguntas ou dúvidas do que escrevemos.

Até a próxima viagem!

Lu e RodrigoX (LuX)