terça-feira, 12 de outubro de 2010

Travessia Josafaz outubro 2010

Após uma "meia-travessia" em 2009 do canion JOSAFAZ, resolvemos voltar agora em outubro (2010) para uma travessia total, se possível.

O plano seria entrar pela cidade de Praia Grande/SC, onde o canion termina e caminhar contra o rio em direção ao seu início no RS. Chegando ao final, retornariamos pelo mesmo trajeto, chegando em Praia Grande novamente.

Um bate-volta de 3 dias, sem muito compromisso. Queríamos apenas um pouco de diversão.

Um mês antes já tinhamos o grupo básico formado:

X;
Lu;
Adrian;
Z;
Suzi.

Mais tarde aderiu também o Rodrigo, convidado pelo Adrian.

Devido a uma certa experiência dos componentes, fizemos apenas dois encontros para resolver os detalhes e algumas dúvidas que tinhamos quanto ao deslocamento.

Após algumas pesquisas optamos em utilizar os serviços do Orley Jr., proprietário da empresa MUNDO VERTICAL com bastante experiência neste tipo de atividade e transporte de esportistas/aventureiros.

Seriamos desembarcados no sítio do Sr. Zé Fernandez (ex-caminhoneiro, criador de porcos e produtor de mel) na boca do canion, 28 km após Praia Grande.

Saímos de POA as 5:00h da manhã de sábado 09X10, para chegarmos as 9:30h no local que passamos a chamar de "os porcos". Ali seriamos resgatados dois dias depois, pelo Orley.



Menos de 1km e chegamos "nos porcos". Trocamos uma palavrinha com o Sr Zé Fernandez e tocamos canion a dentro, numa caminhada que já começou com a travessia do rio Josafaz bem no início da indiada.



Passadas fortes e firmes por 1 hora em trilha, ora embarrada, ora pedregosa, até chegarmos a uma prainha ao lado de uma cabana onde paramos para lanchar. Muita fome, pois nossa última refeição tinha sido as 4h "de la matina". Foi um lanche leve, apenas para colocar o combustível necessário para continuar.


Recuperados, voltamos à atividade pois deveriamos percorrer o máximo possível até as 16:30h, horário em que a luz do dia dentro do canion começa a diminuir, e quando montaríamos o acampamento, jantando cedo, dormindo cedo, para ganharmos o máximo de tempo no outro dia.

Subimos pela lateral do canion até os "limoeiros". Subida forte em trilha pedregosa com paisagem espetacular.

Passamos pelos "limoeiros", que já é um plano horizontal de descanso, rumo ao próximo ponto de referência que chamamos de "a bica".

Este ponto é um marco para quem quer seguir em frente, rumo ao topo do canion, ou subir para Aratinga em trilha íngreme de bois, mulas ou cavalos.

Bueno, dai em diante tudo era novidade para todos.

Adentramos um sítio sem ninguém, sendo recebidos por mulas muito curiosas que nos seguiram até sairmos pela outra porteira.

Havia uma casa, horta e também a lembrança do ano passado, quando nos avisaram sobre um touro muito bravo neste local.

Custamos a encontrar a trilha para contornar o mato que nos bloqueava após a clareira da propriedade.

A Lu largou sua mochila e contornou o mato por cima, nos avisando por rádio para seguir.

A encontramos na clareira seguinte e entregamos sua mochila para continuarmos rumo ao próximo matagal.
Passamos um lodaçal, um curso d'agua, chegando a uma bifurcação. Esta dúvida por onde seguir levou aos nossos "batedores" Adrian e Rodrigo ("arco" e "flecha"), seguirem um por cada caminho.

Ao voltarem decidimos seguir por cima, o que se mostrou mais a diante ser a decisão errada.

Andamos uns 400 mts e descobrimos que não havia passagem da clareira de cima, pois o mato seguinte era muito fechado e havia um peral no final do mesmo.


Voltamos à bifurcação e descemos rumo ao rio.

Ao chegarmos ao rio, achamos um ótimo ponto para acampamento, e pelo adiantado da hora resolvemos ficar por ali.

Montamos as barracas.

A Lu e eu tomamos um ótimo café com leite, muito quente que desceu "redondo".

O Z esquentou sua carne com molho tomou banho e deitou em seguida.

A Suzi lanchou em sua barraca e os "arco-e-flecha", beliscaram conosco na beira do rio.

Tomamos banho no rio gelado. Água fria revigorante e muitas brincadeiras confirmaram a união do grupo.

Isso tudo antes das 18h.

Lá pelas 18:30 hs jantamos. Aí sim, comida de verdade, quente e em abundância.
Após, caímos duros nas barracas.

Esfriou um pouco pela 1h da manhã, mas nada que um saco de dormir 0° não resolvesse.

Acordamos mais tarde do que pretendíamos....por volta das 8hs. Sentamos todos a beira do rio para o café da manhã. Em seguida desarmamos acampamento e reunimos todas as mochilas em uma lona levada pelo X, para escondermos na mata e fazermos a trilha do dia sem peso, levando somente o necessários (cantis, alimentação leve, facões e cordas).
Essa decisão se deu já que queríamos passar a próxima noite já nos "porcos" e seriamos obrigados a voltar pelo mesmo local.

Saímos às 09:30hs, encontrando um grupo de touros e vacas logo a frente, que precisaram ser "tocados" pelo X, para liberarem a trilha. Nossos batedores, "Arco" e "Flecha" tomaram a frente, seguindo a trilha até a beira do rio. Fizemos mais uma travessia, indo para a outra margem. Seguindo pela trilha, a mesma acabava repentinamente. Um derrame havia levado uma grande porção de terra rio abaixo, e nossa trilha também. O X desceu em direção ao rio para ver se tínhamos como seguir por ali. Não era possível e ele ainda ficou na beira do peral, sem ter como subir sem a ajuda de corda, que foi ancorada pelo Z. Depois de subir, retornamos pela trilha até, mais uma vez voltar ao outro lado do rio. Rodrigo e Lu seguiram por uma margem para atravessá-la mais a frente, enquanto que Adrian, X e Z atravessaram de imediato. A decisão da Lu não se mostrou a mais correta, uma vez que ela escorregou em uma pedra, molhando máquina fotográfica e rádio (mas sem maiores danos).

Seguindo pelo leito do rio, encontramos a trilha na outra margem logo a frente. Atravessamos o rio e seguimos por ela.
Após algum tempo de caminhada encontramos uma cabana de caçadores. Estava fechada e sem vestígios de recente uso. Ao longo dos 2 dias, por diversas vezes tivemos a impressão de termos ouvido tiros, o que comprova a presença de caçadores na região, mesmo a caça sendo proibida.

Por vezes a trilha nos enganava, desaparecendo no mato fechado, mas surgindo clara em seguida. Passamos pelo primeiro grande desmoronamento, que deve ter acontecido há alguns anos atrás pois a vegetação já estava com altura considerável.

Passamos por ali entrando novamente na mata. Logo a frente novo desmoronamento, desta vez mais recente (confirmado pelo Sr. Zé Fernandez que nos contou que este ocorreu ano passado). Ali o Z resolveu ficar, pois já estava sentindo o peso de 1 dia e meio de caminhada. O resto do grupo seguiu pela trilha mata a dentro. A todo momento cuidávamos o tempo, para que pudéssemos voltar ate os "porcos" ainda com luz.

Mais uma vez passamos por um acampamento de caçadores. Desta vez a cabana era de lona e havia muito lixo espalhado. Pacotes de massa, pães e sucos em toda a volta, inclusive em uma pequena queda d'água um pouco a frente. Isso só reforça que são pessoas sem a menor consciência ecológica....assassinas de animais, da vegetação e das águas.

A trilha, neste ponto, seguia cada vez mais no sentido contrário do que sabíamos que tínhamos que ir.....seguia morro acima, indo em direção norte, enquanto tínhamos que ir para o leste. Assim, caminhamos pela mata até 11:50hs, quando resolvemos retornar.

O trajeto de retorno foi exatamente o mesmo, para que não corrêssemos o risco de perder tempo em retornos. Nos juntamos ao Z e seguimos para pegarmos as mochilas. Lá chegando, o Adrian e Rodrigo perguntaram se tínhamos percebido uma carteira de cigarro que estava apoiada em uma árvore. Os outros não haviam visto, mas isso nos deixo mais atentos para a presença de outras pessoas por ali. O Z já havia encontrado um cartucho enferrujado de espingarda enquanto nos aguardava, e tínhamos medo da presença de caçadores por ali. Um tiro perdido no meio do mato não seria nada agradável.

Com as mochilas novamente nas costas, seguimos a trilha para a volta. O caminho não estava exatamente igual ao do dia anterior, pois havia chovido a noite e boa parte da manhã, sem muita intensidade, mas com freqüência.

Isto deixou as trilhas mais embarradas e escorregadias. Escorregões e pequenas quedas foram frequentes, mas pior foi um trecho onde o lamaçal era grande, mas não parecia perigoso. Rodrigo (flecha) passou por ele. Suzi e Z optaram em subir um pequeno barranco para contorná-lo.

Neste momento, o X seguiu o Rodrigo e ficou atolado. Lama até os joelhos, que simplesmente "grudaram" a bota na lama, fazendo com que ele não conseguisse se mover. O Adrian estava mais próximo e ajudou o X a se soltar, tentando tirar a lama do entorno do pé, fazendo entrar ar por baixo da bota. Foram 15 ou 20 minutos de apreensão, com medo de que cada vez o X ficasse mais atolado, ou que perdesse a bota ali. Mas depois de algum tempo e grande esforço ele conseguiu se soltar.

Seguimos a trilha sem maiores transtornos e chegamos a cabana do Sr. Zé Fernandez. Lá chegando, fomos alegremente recepcionados por 4 pequenos porcos que vieram ao nosso encontro correndo morro abaixo.

Enquanto o X e a Lu foram cumprimentar o Sr. Zé, Z, Suzi, Adrian e Rodrigo começaram a armar as barracas e foram surpreendidos por um grupo de 4 caxienses que simplesmente "surgiram" da mata. Eles haviam descido a parede canion em linha reta vindo do Rio Grande do sul, do topo, até o ponto onde nos encontrávamos. Conversamos um pouco, trocando informações e aventuras até que o grupo seguiu seu rumo. Neste momento X e Lu vão ao encontro do grupo com uma "triste" notícia....o Sr. Zé não tinha ovos para vender (haviamos pensado em fazer um omelete), mas tinha costelinhas de porco, carvão e uma churrasqueira para emprestar. Inacreditável!!!!!

Um churrasco naquele lugar? E que churrasco....pouca gordura e muita carne.

Depois de outro banho gelado de rio, com direito a sabonete e xampo, colocamos roupas quentes e ficamos em volta da churrasqueira, bebendo um vinho oferecido pelo Sr. Zé e conversando. Ficamos sabendo de algumas estórias de pescador e lendas da região, como a do "Gritador". Fizemos arroz e massa para complementar a carne, comemos e fomos dormir. A Lu confessou depois que não dormiu tão bem como na primeira noite, com medo do "gritador", ou que algum dos porcos viesse perambular perto das barracas.

(Acesse http://www.youtube.com/watch?v=bJjKaj-RsOc e saiba mais sobre a lenda do Gritador).

O dia seguinte amanheceu com sol e pouco vento. Acordamos cedo e metade do grupo decidiu seguir a trilha até uma cachoeira próxima. Sem café da manhã, Adrian, Rodrigo e Suzi seguiram a trilha. Combinaram em voltar até 11hs, para terem tempo de desmontar acampamento e estarem prontos até meio-dia, no local de encontro com o Orley. X, Lu e Z ficaram pelo acampamento, tomando café com calma e "lagarteando" nas pedras a beira do rio e após foram tomar café.


1:30h depois chegaram os exploradores da cachoeira. Contaram que é um lugar de difícil acesso mas não impossível de se atingir.
Suzi, Adrian e Rodrigo nos deixaram com "água na boca" com o relato da aventura.
VOLTAREEEEMOS !!!

Assim que desmontaram o acampamento, nos despedimos do Sr Zé Fernandez, agradecendo a acolhida e informando que retornaremos para mais atividades na área, o que foi prontamente aprovado por ele.

Chegamos ao ponto de encontro/resgate em que seriamos apanhados pelo Orley às 11:45h.

Combinamos ao meio-dia, mas com o atraso de 1:30h da van, começamos a nos preocupar e voltamos ao Sr. Fernadez para pedir uma carona em seu caminhão. Poderiamos cruzar pelo Orley ou até mesmo fazer um resgate dele pois imaginamos, sim, que alguma coisa poderia ter acontecido.

Lu e eu insistimos no caminhão contra a vontade do Z, Adrian, Rodrigo e Suzi, em um debate acalorado via rádio. Nós no sítio, e eles na ponte, local de encontro com a van. O medo da Lu era de que tivesse acontecido alguma coisa com o Orley que o impedisse de buscar-nos. Como não há forma alguma de comunicação entre onde estávamos e a civilização, nossas únicas opções eram o caminhão do Sr. Zé ou caminhar até o posto do Ibama e pedir que chamassem, via rádio, taxis de Praia Grande para nos buscar. Como já haviamos dado sorte em encontrar o Sr.Zé em casa (ele já estava retornando para sua lida no campo), resolvemos "assumir a responsabilidade" e bater o martelo com o caminhão.

Embarcamos no caminhão e chegando na ponte pênsil onde todos embracaram e seguimos rumo a Praia Grande.

Dez minutos após estarmos na estrada, avistamos a kombi do Orley. Desembarcamos, agradecemos a camaradagem do Sr Fernandez, que não quis nos cobrar pela carona até aquele ponto, mas mesmo assim oferecemos um gorjeta para ele. Ele já havia nos contado quanto custa "ligar" o caminhão....e pelo tamanho do bicho, não era fácil manobrar naquelas estradinhas.

Transbordo feito, partimos para um lanche em Praia Grande.
Após, tocamos direto para POA, onde chegamos às 19:00h.

Entregues porta-a-porta, todos felizes e sãos com o término desta jornada. Mas prontos para a próxima.

Participantes:

Suzi Soares - SU;
Rodrigo - FLECHA;
Adrian Arcos - ARCO;
Ricardo Zelanis - Z
Luciana Maines - LU
Rodrigo Xavier - X



Quando nos perguntam por que fazemos isso, por que ir para um lugar onde nem ao menos celular "pega", respondemos:



PORQUE ESTÁ LÁ !!!

...

Dicas de comidas para trilha:

Por incrível que pareças, nossos amigos "Arco e Flecha", escoteiros experientes, nos surpreenderam com um estrogonofe na noite de sábado, na beira do rio. Perguntados sobre como fizeram esta façanha, contaram que é até bem simples. Segue a dica:

- faça a carne picada com pouco molho;
- coloque em um saco plástico, retirando todo o ar, e congele;
- para armazenar na trilha, coloque dentro de um pote plástico, dentro de outro saco plástico e envolva com papel alumínio e por último folhas de jornal.

O ideal é consumir no mesmo dia (ainda mais se for quente). Daí, basta aquecer no fogareiro e adicionar o creme de leite. Fácil de fazer, de carregar e maravilhoso de comer!!!!!


...

Dicas, dúvidas, sugestões, comentários, por favor escrevam-nos.

Mais fotos disponíveis em http://picasaweb.google.com.br/Lucmasi/TravessiaJOSAFAZOUT2010?authkey=Gv1sRgCO6C24Hx6KazgQE&feat=directlink